domingo, 28 de março de 2010

Como os jornais vão sobreviver na era da internet?, por Hal Varian



Enquanto os jornais estão contando com o iPad para "reinventar" a Web (tentando "cobrar" pelo mesmo conteúdo que hoje todo mundo tem de graça), Hal Varian, economista-chefe do Google, trouxe notícias não muito auspiciosas para a mídia impressa...

A circulação dos jornais dos EUA, que vinha caindo desde 1990, desabou nos últimos 5 anos. Se o número de exemplares por domicílio era "maior que 1,2" nos anos 50, na última década foi "menor que 0,6".

Embora a circulação em números absolutos não tenha caído, a população norte-americana cresceu e as receitas com an úncios estão, atualmente, no nível de... 1982. O número de jornais comprados por pessoa, nos EUA, é metade do que era na década de... 60.

Hal Varian considera que a circulação seja um problema de médio/longo prazo, enquanto que a queda nas receitas é um problema de curtíssimo prazo.

Muitos jornais praticamente não chegaram na era da internet, pois menos de 10% de suas receitas vêm do chamado "on-line".

Já pelo lado das despesas, Varian acredita que "se os jornais abdicassem da impressão e da distribuição, cortariam seus custos, no mínimo, pela metade".

Dentro do "bolo publicitário", a participação dos jornais, nos EUA, caiu de "mais de 36%" (em 1949) para "menos de 15%" (em 2009).

Ainda que o PIB suba, e também a renda per capita, as receitas dos jornais, ultimamente, só decrescem...

Para completar, a internet (42%) ultrapassou os jornais (33%) como "fonte de informação", nos EUA, desde 2008.

E um dos problemas econômicos, daqui para frente, é que o modelo de "subsídi os cruzados" (cross subsidization) não funciona mais...

Os jornais, na realidade, nunca ganharam dinheiro com "notícias brutas" (hardnews), mas através de editorias especializadas.

Ocorre que, na internet, as pessoas preferem acessar os sites especializados nessas áreas, e Varian dá o exemplo do Yahoo! Finance, da Amazon, do Orbitz (para Viagens) e do Zillow (para Imóveis).

Mesmo o Google, o pai do AdSense, acha difícil "monetizar" notícias brutas (as únicas que sobraram para os jornais) - porque elas são, por princípio, uma commodity (sem valor agregado).

O desespero da mídia impressa, portanto, é justificado: o que lhes dava dinheiro antes... não poderá mais ser monetizado...

E no Brasil não é diferente (embora os jornalistas disfarcem)...

No mês passado, o IVC divulgava as seguintes quedas, nos nossos periódicos (só no ano de 2009): O Dia (-31,7%), Diário de S. Paulo (-18,6%), Jornal da Tarde (-17,6%), Extra (-13,7%), O Estado de S. Paulo (-13,5%), Diário Gaúcho (-12%), O Globo (-8,6%), Folha de S. Paulo (-5%), Super Notícia (-4,5) e Estado de Minas (-2%)...

Sobrou até para o Google fazer a "lição de casa" dos jornais (e para Hal Varian, a dos jornalistas)...

>>> Newspaper economics: online and offline (áudio | slides)




Literatura >>> A Reinvenção da Leitura, na Época Negócios

Se a mídia brasileira demorou a aceitar o começo do fim dos jornais (em 2008) e a ascensão do Twitter (em 2009), parece mais disposta (em 2010) a falar da explosão do livro eletrônico.

Prova disso é a reportagem de capa da revista Época Negócios que, pela primeira vez, reuniu todos os principais players do mercado editorial numa matéria só.

Começando com Jeff Bezos, o pai do Kindle, passando pelos herdeiros das Organizações Globo, do Grupo Abril, do Grupo Folha, fora editores como Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, e autores como Paulo Coelho, o único brasileiro sob contrato exclusivo com a Amazon.

Faltou, claro, Steve Jobs, falando sobre o iPad, mas sua ausência não chega a ser uma falha.

Ao contrário dos jornalistas - que negam a queda de circulação dos jornais até hoje - os editores parecem mais bem informados e estão se preparando para as transformações, embora defendam, cada um, o seu lado.

Roberto Irineu Marinho, por exemplo, não acha, ainda, que os jornais ou as revistas estejam ameaçados, nem os livros, mas, sim, as gráficas.

Já Luiz Schwarcz afirma que sem editores - com os autores publicando diretamente - "a qualidade do livro vai cair(...), com consequencias nas vendas".

Também Sônia Jardim, da Record, considera que, com preços tão baixos (dos livros eletrônicos), não será possível sustentar toda a cadeia produtiva das editoras nacionais.

E Roberto Civita, naturalmente, prevê a digitalização rápida do "conteúdo noticioso" (jornais), mas nem tão rápida assim dos "meios" (revistas)...

Época Negócios, com muita coragem, se posiciona: embora os anúncios estejam migrando do papel para a Web, eles não estão, necessariamente, se dirigindo para os sites da velha mídia.

Ainda: cobrar por conteúdo não é a solução; numa pesquisa feita no Reino Unido, mais de 90% dos entrevistados não se dispôs a pagar por notícias on-line (em nenhum formato ou "device").

Se os editores tentam contemporizar - pr eservando ao menos seu próprio business - e Época Negócios adota o tom geralmente sóbrio, Paulo Coelho é a voz dissonante, e parte para o ataque: "Vi [entre as editoras] total desorientação"; "Não vendi minhas versões eletrônicas...

As editoras não têm esse direito"; "Pediram meus livros eletrônicos... Não vou dar"; "Tentam criar, agora, um boicote contra as plataformas eletrônicas... Acho uma perda de tempo. Com 3 milhões de produtos para vender, a Amazon não está nem aí...".

Sobrando até para o iPad de Jobs: "Não acredito no iPad(...) Trata-se de um iPhone grande(...)

Não creio que se consiga ler numa tela que emite luz". Schwarcz, talvez sem querer, responde [falando de autores que, como Coelho, prescindiram dos editores]: "Ou o sujeito não entende o verdadeiro papel do editor em todo o processo ou é presunçoso a ponto de achar que pode prescindir de parceiros na edição".

O fato é que, se as editoras se sentiam, até hoje, fora da "digitalização de con teúdos" provocada pela internet, agora não podem mais negar a mudança em curso. E se alguém duvidava que esse movimento chegaria ao Brasil, a reportagem de capa da Época Negócios acaba de dar a resposta...

>>> Época Negócios