domingo, 6 de março de 2011

Dilma e a ‘Operação doçura’ na mídia velha

Quanto a mim, retenho na memória o dia deste abraço sincero. Sou mulher de fibra e sei que Dilma também é e sabe disso.


Planeta Osasco

Escrito por Redação


Por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro


Nas últimas semanas é de fato impressionante a ‘operação transformação‘ ocorrida na mídia velha em relação ao tratamento dado à imagem e à história de Dilma Rousseff. Para avaliar o tamanho da mudança, recordemos alguns breves episódios:


Folha e as ‘acusações de futuro’

A gama de adjetivos detratores que a então ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu quando a velha mídia entendeu que ela seria a candidata à sucessão de Lula foi imensa. Desde 2009 pelo menos os ataques foram constantes: ‘terrorista’ com direito até a publicação em primeira página de spam produzido em blog de extrema-direita pela Folha de São Paulo; ‘princesinha nórdica‘ como gostava de repetir o ex-presidente FHC, ‘poste’, ‘imunda‘, ‘abortista‘, ‘assassina de criancinhas’, ‘lésbica’ (como se isso fosse um defeito grave) e ainda por cima ‘infiel’ e outros termos, somados a calúnias e factóides repetidos exaustivamente por políticos demotucanos, reverberados na mídia velha e retro-alimentados pela TFP, passando pelo Pró-vida, por Mônica Serra, mulher do candidato José Serra…


Tais calúnias e preconceitos de toda ordem inundaram a Internet nos blogs de extrema-direita oficiais e oficiosos, redes sociais, e-mail e foram materializados em panfletos colados em porta de igrejas, supermercados, postes nas ruas…


Durante a campanha, o jornal Folha de São Paulo fez até ‘acusação de futuro’ contra a candidata Dilma Rousseff. Ela respondeu as acusações denominando o jornal e a matéria de: “parciais, enviesados, escandalosos e de má-fé”:


Nem após a vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra o jornal Folha de São Paulo, a revista Veja e afins lhe deram folga: dia 1 de novembro várias manchetes estampavam a ‘denúncia’, bem ao estilo do velho PIG, de que a presidenta não havia ido à festa da vitória celebrar com os militantes em Brasília. A intenção era, como sempre, a de reforçar a imagem de Dilma como ‘antipática’ e ‘anti-popular’.



PIG pedindo arrego e o tal ‘tapa com luvas de pelica’


Oito anos de ataques sistemáticos ao presidente Lula e a entrada com todas as fichas na campanha pró-Serra e contra Dilma Rousseff sangraram um pouco os recursos do PIG.


Franklin Martins no comando da SECOM descentralizou a política de publicidade, fazendo com que pequenos jornais, rádios e tvs locais conseguissem uma fatia de publicidade governamental que até então era gasta em bloco para alimentar os grandes jornais do Rio de Janeiro e São Paulo e Tv Globo.


Na esperança de convencer a presidenta a esquecer as mágoas e com seu cargo e importância prestigiar a festa da Ditabranda, os irmãos Frias foram bater na porta do Planalto com o pires nas mãos.


Foram atendidos: Dilma compareceu e fez um discurso lamentável, confundindo liberdade de imprensa com liberdade de expressão, chancelando o jornalismo da Folha.


Parecela da blogosfera lamentou o discurso da presidenta para a qual esta mesma blogofera entrou de cabeça na campanha a fins de elegê-la contra uma candidatura que ameaçava não apenas os ganhos sociais do governo Lula, mas a manutenção dos parcos direitos civis que temos garantidos no país.


Entre esta blogosfera que repudiou/lamentou o prestígio que a presidenta conferiu ao jornalismo ditabranda está esta blogueira, Maurício Caleiro, Eugênio Neves, Leandro Fortes, Eduardo Guimarães, Luiz Carlos Azenha.


E mais uma vez a polêmica se instaurou entre a blogosfera à esquerda e/ou progressista, com blogueiros governistas acusando os críticos ao discurso laudatório aos 90 anos da Folha de ‘traíras’, ‘portadores de problemas psicológicos’ e outros termos detratores.


Foi também bastante curiosa a operação que se deu na imagem dessa parcela da blogosfera de esquerda e/ou progressista: de blogueiros ‘chapa branca’ nos tornamos quase uma espécie de Soninha Francine, aliás alguns me disseram isso com todas as letras e me denominaram de ‘Miss Sabotagem’.



A presidenta em programas femininos de mulheres do século XX


Depois de uma semana bradando no twitter contra o discurso feito por Dilma Rousseff na festa da Folha Ditabranda, ontem pela manhã liguei a tevê na Globo (emissora que há anos não assisto e só acompanhei em dias de debate ou de ida de Dilma Rousseff durante a campanha). Não foi a toa que o programa em queda livre de audiência recuperou ibope: nunca dantes na história deste país esta blogueira feminista tinha assistido o Mais Você.


No dia anterior à exibição da entrevista fui intensamente provocada no twitter e respondia, mesmo sem saber como seria o programa, que não achava ruim a ida de Dilma ao Mais Você. Alguns ficaram confusos, porque para eles a ida de Dilma Rousseff no programa da Ana Maria Braga é da mesma categoria da ida à festa da Folha.


Não é, e vou explicar os porquês.


O programa foi gravado, certamente com acompanhamento e anuência da equipe da presidenta; Dilma não precisou fazer discurso laudatório do casal 20; durante o enfrentamento do linfoma Dilma recebeu a solidariedade de Ana Maria Braga, que também teve câncer e não fez uso de seu gesto para se promover (fato revelado pela presidenta assim que começou o bate papo com a apresentadora); o programa tem como público alvo mulheres da classe C e D, mas Dilma falou, inclusive, para senhoras de sua idade que tiveram educação de classe média: leitoras da ‘Coleção das Moças’.


Foi uma chance ímpar de Dilma Rousseff passar mais de duas horas reconstruindo sua imagem para um público importantíssimo e de algum modo se aproximar dele. Em vários momentos a presidenta se dirigia para a câmera como se falasse a cada uma das telespectadoras.


Algumas matérias na velha mídia chegaram a afirmar que isso era ‘vício de campanha’, equivocassem, isso é aprendizado de campanha. A presidenta, até mais que durante o período eleitoral, discorreu sobre uma série de programas voltados para as mulheres, problematizou a questão da desigualdade de gênero e não perdeu uma única chance de reforçar um discurso feminista e de auto-estima das mulheres.


Durante todo o programa houve empenho de Dilma (com grande ajuda de Ana Maria Braga e da edição da Rede Globo) em transmitir uma imagem da presidenta como uma mulher doce, governanta próxima de seus cidadãos, uma gestora competente, inteligente, capacitada, mas que sabe ouvir e acatar as críticas, que se emociona, que é uma amiga fiel…


Quem viu o programa se emocionou: Ana Maria Braga com sua voz suave, estava vestida de gala pra receber a presidenta: foi recebê-la na porta e apresentar todo o estúdio para Dilma.


As telespectadoras puderam conhecer até mesmo o lago e a ponte sobre ele no entorno do estúdio de gravações do programa Mais Você.


Soubemos até que ali se gravava o Sítio do Pica-pau Amarelo


A Globo com toda sua competência pra fazer televisão (para o bem ou para o mal) se esmerou na produção e nos depoimentos: de @pretozeze, o presidente da Cufa, ao ex-marido de Dilma, passando por amigas da juventude, crianças da escola vizinha do apartamento de Dilma em Porto Alegre e vizinhas de Dilma até a estilista que há 17 anos cuida de suas roupas e a quem a presidenta foi fiel na escolha do traje usado na posse.


A cada depoimento ouvíamos as pessoas mais próximas ou que tiveram convivência com a presidenta elogiar a sua doçura, fidelidade, competência e o orgulho que sentiam de Dilma. Uma ‘gracinha’ como diria Hebe Camargo.


O ex-marido e também ex-preso político, Carlos Franklin de Araújo, confessa ao som de uma música suave que se apaixonou à primeira vista, enquanto isso na tela, em quadro menor, Dilma abre um largo sorriso diante da declaração do ex-companheiro.


Em off, o repórter faz questão de reafirmar que mesmo após a separação do casal, eles continuam grandes amigos, afirmação endossada pela bela mensagem que Carlos dedica à presidenta.


Na sequência, em off, o repórter reafirma a idéia de uma mulher que é fiel a seus princípios e amizades, a partir do depoimento da psiquiatra Vera Stringuini, ex-presa política e amiga da presidenta.


Em seu depoimento, Vera conta como se conheceram logo após ambas saírem da prisão durante a Ditadura Militar, fala de como aprenderam a dirigir automóveis, dos preconceitos enfrentado pelas mulheres no trânsito.


Para mostrar o distanciamento de amigas tão solidárias durante a juventude, a edição intercala cenas de Dilma em sua trajetória administrativa e, em off, o repórter argumenta que a falta de tempo de Dilma para as amigas decorreu de seus compromissos políticos.


Corta pra Vera, que foi convidada para a festa da posse no Itamaraty, e nos conta que Dilma não perdeu a doçura e a feminilidade: ambas amigas no reencontro elogiaram a maquiagem uma da outra.


Vera diz: ” Por incrível que pareça, ou não tão incrível, é a minha amiga de sempre”.


Toda a sequência é positiva, a estilista que mostra que a presidenta é fiel e doce, a vizinha que se sente orgulhosa, a diretora da escola do prédio vizinho da presidenta que para além do orgulho de ter recebido visita tão ilustre, conta o quanto a Dilma foi respeitosa ao perguntar se podia ir visitar a escola.


A chave de ouro dessa sequência simpática e reveladora do lado humanizado e doce de Dilma Rousseff é a entrevista com as crianças da escolinha que a presidenta visitou em 14 de dezembro do ano passado, dia de seu aniversário.


A personagem principal é um garoto fofo de 5 anos chamado João Pedro Vendruscolo. Extrovertido, espontâneo, o guri encantou a todos. O repórter do Mais Você pergunta ao menino João o que ele havia dito à presidenta quando ela visitou a escola.


Ele responde: “Falei que ela é bonita”. O repórter complementa: “Mas não foi só isso que ele disse” e corta pra as cenas de arquivo do dia 14 de dezembro de 2010.


Na arte editorial, uma seta aponta para João todo espevitado no meio de um grupo de crianças que rodeiam em festa a presidenta.


Na cena seguinte vemos legendado o diálogo de João com a Dilma que, obviamente, a Globo não passou no Jornal Nacional, mesmo tendo mostrado as cenas no dia do aniversário da presidenta:


João: “Sabe que a Cláudia e minha mãe votaram em ti?”


Dilma: “Votaram em mim? Mas que legal!”


João: “E que o Serra não ganhou?”


Corta novamente para entrevista de João que nos revela que ficou triste por não ter sido convidado para a posse. É de uma meiguice sem fim ver o sentimento de uma criança de cinco anos que confessa, sem cerimônias, ter chorado por não ter ido à posse da presidenta.


Ele se sente amigo íntimo da presidenta. Não há como não se comover com sua fala: ”Eu não fui convidado”. Repórter: Pra quê? João: “Pra festa da Dilma (a posse), aí eu chorei”. Repórter: Você iria pra Brasília? João: “Eu sou do Brasil”.



Trechos dos programas (veja na íntegra aqui e aqui:


Ana Maria Braga: “Crianças sabem das coisas, né, presidenta?”


Dilma reforça mais uma vez a idéia de que é uma presidenta próxima de seus eleitores, argumentando que os brasileiros não são submissos e tratam seus governantes de igual para igual, reclamam, fazem sugestões, elogiam, contam histórias pessoais, tratam o/a presidente/a como uma mistura de parente, conselheiro, amigo.


A presidenta argumenta que deve haver uma relação de igualdade na República, que os governantes devem estar preparados para receber críticas.


Dilma reforça ainda a idéia que o fato de ser mulher, ter menos força física, não a fragiliza e contrapõe o discurso machista que nos naturaliza como seres frágeis, carentes de proteção, à idéia de que é uma mulher forte, mas nem por isso dura.


Num dado momento diz: “Sou uma mulher forte cercada de homens meigos”, e se põe como exemplo de quebra de paradigmas como fez em seu discurso da vitória.



Usando o espaço conservador para dar o seu recado


Ontem, durante a nossa fala no Sindicato dos Bancários, transmitida por twitcam, Azenha trollou a mim e a Conceição Lemes e escreveu este post aqui.


Não há como não concordar com ele que Ana Maria Braga, Hebe Camargo, a senhora do “Cansei”, reproduzem em seus programas seus valores conservadores (Hebe eu diria que reproduz os valores pré-primeira guerra mundial onde mulher ‘decente’ deveria conseguir um ‘bom casamento’, ler revista feminina em busca de receitas e de conselhos pra educar os filhos).


É fato que o cenário principal do programa da Ana Maria Braga é a cozinha, espaço privado da casa, visto como de domínio ‘natural’ das mulheres, esses sujeitos estranhos que sagram todos os meses em idade fértil, e para as quais ainda há machista que nos reservam o papel de ‘rainha do lar’: responsável pela higiene da casa, alimentação da família, educação dos filhos.


Já caminhamos distâncias astronômicas em relação a este papel restrito e restritivo, mas nem todas temos discursos politizados contra o machismo. Muitas das telespectadoras de Ana Maria Braga são donas de casa, gostam de cozinhar e, apesar de se ajustarem ao perfil ‘do lar’, são chefes de seus lares, têm dupla, tripla jornadas.


Por isso, Dilma Rousseff ter sido a entrevistada abre um campo novo naquele cenário doméstico e idílico do Mais Você.


E a presidenta (que está se saindo um ‘animal político’ melhor do que encomenda) olhava pra câmera, sorria inúmeras vezes, falava com doçura e atenção, olho no olho, de ‘mulher pra mulher’.


Em cada fala de Dilma, (acompanhada de uma edição cuidadosa e camarada) sobre os preconceitos contra mulher, também vividos por ela (quando aprendia a dirigir por exemplo), ou no campo amoroso (o carinho de seu ex-companheiro), do amor fraternal das amigas, vizinhas, a imagem de avó carinhosa com o neto e também com as crianças da escola infantil em seu aniversário, construíam uma imagem de Dilma extremamente humanizada.


A Dilma é uma de nós, é como nós! As telespectadoras puderam ouvi-la, se reconhecerem na presidenta, compreenderem e aprovarem as políticas públicas de seu governo voltada para esta parcela da população.


Enquanto isso Dilma que é melhor presidenta que cozinheira ia quebrando os ovos, falando do salário mínimo (entendido pelos sindicatos como arrocho), versava com segurança sobre a macro economia e aprontava o seu omelete com bicarbonato de sódio, aprovado pelo louro José, pela Ana Maria Braga.


Quanto a mim, retenho na memória o dia deste abraço sincero. Sou mulher de fibra e sei que Dilma também é e sabe disso. (Vide foto supra)

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quinta-feira, 3 de março de 2011

Emir Sader e o ódio da direita

Por Altamiro Borges

A decisão abrupta da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, de cancelar a nomeação de Emir Sader para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, gerou uma ofensiva histérica da mídia contra o renomado intelectual de esquerda. Alguns “calunistas”, como Josias de Souza (Folha), Ricardo Noblat (Globo) e Reinaldo Azevedo (Veja), tiveram orgasmos múltiplos. Os jornalões e seus sítios fazem de tudo para desqualificar o sociólogo.

A “vingança maligna”

O ódio da direita contra Emir Sader não é novidade. Ela nunca tolerou suas críticas ao “pensamento único” emburrecedor do neoliberalismo. Ela também nunca aceitou o papel ativo do intelectual, que não se enfurna na academia e procura transforma suas reflexões críticas em ação política transformadora. Mesmo com ressalvas a vários limites do governo Lula, o sociólogo teve papel destacado na mobilização da intelectualidade para evitar o retrocesso demotucano no país. A mídia nunca o perdoou.
Sua vingança maligna se dá agora com a decisão da ministra da Cultura. A mídia comemora, segundo Josias de Souza, carona de FHC, o fato de Emir Sader ter sido “defenestrado”. Tenta apresentar a conclusão do imbróglio como uma vitória dos setores mais “moderados” no interior do governo Dilma Rousseff, que isola as “abobrinhas” da esquerda. Elogia a postura “firme” de Ana de Hollanda, que mostrou que “não é autista”, ainda segundo Josias.

Cabeça erguida e muita disposição

Num texto publicado hoje, Emir Sader afirma que não se abala com a brutal perseguição da direita. Ele lembra que esta é a terceira vez é vitima da sua truculência:

“A primeira foi durante a ditadura. Buscado pela Oban (aquela para a qual a empresa dos Frias emprestou seus carros para disfarçar de jornalistas os agentes do terrorismo de Estado), casa invadida, mulher detida, biblioteca destruída, foto nos jornais e nos cartazes da ditadura como buscado por terrorista, execrado pela imprensa. Eu estava na clandestinidade, fui condenado, à revelia, a quatro anos e meio de prisão, depois anistiado”.

“A segunda, no processo movido pelo Jorge Bornhausen, quando eu lhe respondi com artigo na Carta Maior àquela declaração de que ia ‘acabar com essa raça por 20 anos’. Ele me moveu processo por injúria, calúnia e difamação, teve o apoio, uma vez mais, da empresa dos Frias, execrado pela imprensa. Foi desatado um amplíssimo movimento de solidariedade, com abaixo assinado encabeçado pelo Chico Buarque, Veríssimo, Antônio Candido, Eduardo Galeano, que recolheu mais de 20 mil assinaturas”.

“Agora há esta nova ofensiva da direita, de novo achando que podem me constranger, me calar, me isolar. De novo truculenta, de novo submetido à execração pela, agora, senil e velha mídia, mas a mesma da época da ditadura e do processo do Bornhausen. De novo a empresa dos Frias envolvida, mediante uma armadilha de usar em on o que era uma conversa em off, coisa típica desse jornalismo decadente e imoral. Saio também ileso, moral e politicamente, honrado com todos os apoios que recebo, assim como pela lista – esta sim, execrável, dos que atacam, do outro lado”.

“A sensação, nas três circunstâncias, é a de que me tornaram vítima ‘por boas razões’, como dizia o Brecht, porque estou do lado certo, no bom combate, que o que está em jogo não sou eu individualmente, mas causas justas que é preciso defender e a que tantos dedicam também suas vidas na defesa delas. Que a solidariedade imensa e emocionante que recebi nas três ocasiões se dirige às causas às quais dedico o melhor da minha energia e não a mim como pessoa.

“Portanto, me sinto bem nessas circunstâncias em que a direita me toma como vítima privilegiada, como que honrado por esse privilégio de ser considerado alguém que os incomoda, que afeta os seus interesses e os seus valores conservadores. De todas elas saí mais forte, com mais apoio, com mais amigos e companheiros, mais convencido de que essas são causas justas – tanto assim, que a direita as combate sempre, com todas suas armas, desde as metralhadoras e os carros da Oban-Folha, até o monopólio, enfraquecido e senil, da imprensa -, que vale a pena jogar a vida por elas”.


“Pegadinha” asquerosa da Folha

O motivo que teria levado Ana de Hollanda a cancelar a nomeação de Emir Sader foi uma entrevista concedida pelo sociólogo à Folha de S. Paulo, publicada no domingo (27), com o objetivo de apresentar seu plano de trabalho para a Casa de Rui Barbosa. Mas num golpe rasteiro, bem comum neste jornal de intrigas e futricas, a Folha preferiu destacar uma crítica à ministra, que seria “meio autista”, proferida já ao final da entrevista – em off, segundo o jargão jornalístico.

Emir Sader tem consciência de que a entrevista foi uma armadilha para inviabilizar sua nomeação para este importante instituto de debate de idéias. A provocação da Folha já aparece no título da matéria: “Um emirado para Emir”. No seu início, a bravata direitista de que “o espectro do comunismo” ronda o Ministério da Cultura. Na sequência, os jornalistas Marcelo Bortoloti e Paulo Werneck, que mais se parecem militantes do DEM, ainda ironizam a nomeação de Emir Sader para a Casa Rui Barbosa, afirmando que os intelectuais teriam que “entoar a Internacional Comunista” e seriam enviados para o “corte de cana” em Cuba.

“A entrevista é editorializada desde o título até o final. Não tem nem a generosidade de te dar a palavra e depois, no final, dizer o que acha. É tudo editorializado”, lamentou Emir Sader numa entrevista à Rede Brasil Atual. Segundo explicou, parte da conversa com os repórteres da Folha foi feita em off, prática jornalística pela qual se publica o conteúdo sem citar a fonte. “O sociólogo entende que a intenção por trás da reportagem vai muito além de sua posse na fundação. ‘O problema não é comigo. É tentar inviabilizar um espaço de pluralismo intelectual, teórico, político. Isso é o que os assusta porque são do pensamento único’”.

Início conturbado no MinC

Com base nesta “pegadinha” é que Ana de Hollanda teria cancelado a nomeação, segundo afirmam os jornalões. Mas esta decisão intempestiva ainda deve ter desdobramentos. Há um forte clima de descontentamento, inclusive em áreas do PT, com o início de gestão, bastante conturbado, da nova ministra. De cara, em janeiro, ela desagradou os ativistas ligados à cultura digital ao retirar a licença Creative Commons do sítio oficial do Ministério da Cultura.

Na sequência, ela indicou um advogado do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) para a Diretoria de Direitos Intelectuais (DDI). Os Pontos de Cultura, uma iniciativa inovadora do ministério no governo Lula, também reclamam da falta de repasses de recursos do programa Cultura Viva. Tampouco foram abertos novos editais para pontos, prêmios e outras formas de financiamento cultural que caracterizaram os oito anos anteriores no Ministério da Cultura (MinC).

Clima de insatisfação e autismo

Segundo Renato Rovai, um dos jornalistas mais bem informados sobre o que rola na área cultural, “a avaliação que circula no Planalto é que o troféu ‘ministério problema’ dos primeiros 100 dias do governo Dilma dificilmente escapará das mãos do MinC. Na bancada de deputados petistas, há uma insatisfação quase generalizada com as ações do ministério; na blogosfera, o MinC se tornou pauta negativa todos os dias; nos movimentos sociais, há uma crise instalada por conta dos sinais que vem sendo emitidos em relação às novas políticas para os Pontos de Cultura; entre os intelectuais que apoiaram Dilma, a decepção com a nova agenda tem levado alguns a dizer que vão desembarcar do apoio ao governo”.

Para ele, a situação é preocupante. “O governo Dilma ainda está começando e há tempo para o MinC mudar o sinal desses primeiros meses, saindo do noticiário a partir de pautas negativas e buscando um novo tipo de relacionamento com os setores que defenderam a candidatura de Dilma e que fazem parte da base histórica do PT e do PCdoB, por exemplo, na área. Mas para isso é preciso descer do salto. Não parece ser essa opção da nova equipe. Os recados que chegam do bloco A da Esplanada é de que certos temas são proibidos. E que na nova equipe se instalou um clima de que todas as críticas são parte de uma tentativa de desestabilizar Ana de Hollanda. Política não se faz procurando inimigos embaixo da mesa de trabalho. Quando isso acontece, o resultado costuma ser desastroso”.

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