Emir Sader e o ódio da direita
Por Altamiro Borges
A decisão abrupta da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, de cancelar a nomeação de Emir Sader para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, gerou uma ofensiva histérica da mídia contra o renomado intelectual de esquerda. Alguns “calunistas”, como Josias de Souza (Folha), Ricardo Noblat (Globo) e Reinaldo Azevedo (Veja), tiveram orgasmos múltiplos. Os jornalões e seus sítios fazem de tudo para desqualificar o sociólogo.
A “vingança maligna”
O ódio da direita contra Emir Sader não é novidade. Ela nunca tolerou suas críticas ao “pensamento único” emburrecedor do neoliberalismo. Ela também nunca aceitou o papel ativo do intelectual, que não se enfurna na academia e procura transforma suas reflexões críticas em ação política transformadora. Mesmo com ressalvas a vários limites do governo Lula, o sociólogo teve papel destacado na mobilização da intelectualidade para evitar o retrocesso demotucano no país. A mídia nunca o perdoou.
Sua vingança maligna se dá agora com a decisão da ministra da Cultura. A mídia comemora, segundo Josias de Souza, carona de FHC, o fato de Emir Sader ter sido “defenestrado”. Tenta apresentar a conclusão do imbróglio como uma vitória dos setores mais “moderados” no interior do governo Dilma Rousseff, que isola as “abobrinhas” da esquerda. Elogia a postura “firme” de Ana de Hollanda, que mostrou que “não é autista”, ainda segundo Josias.
Cabeça erguida e muita disposição
Num texto publicado hoje, Emir Sader afirma que não se abala com a brutal perseguição da direita. Ele lembra que esta é a terceira vez é vitima da sua truculência:
“A primeira foi durante a ditadura. Buscado pela Oban (aquela para a qual a empresa dos Frias emprestou seus carros para disfarçar de jornalistas os agentes do terrorismo de Estado), casa invadida, mulher detida, biblioteca destruída, foto nos jornais e nos cartazes da ditadura como buscado por terrorista, execrado pela imprensa. Eu estava na clandestinidade, fui condenado, à revelia, a quatro anos e meio de prisão, depois anistiado”.
“A segunda, no processo movido pelo Jorge Bornhausen, quando eu lhe respondi com artigo na Carta Maior àquela declaração de que ia ‘acabar com essa raça por 20 anos’. Ele me moveu processo por injúria, calúnia e difamação, teve o apoio, uma vez mais, da empresa dos Frias, execrado pela imprensa. Foi desatado um amplíssimo movimento de solidariedade, com abaixo assinado encabeçado pelo Chico Buarque, Veríssimo, Antônio Candido, Eduardo Galeano, que recolheu mais de 20 mil assinaturas”.
“Agora há esta nova ofensiva da direita, de novo achando que podem me constranger, me calar, me isolar. De novo truculenta, de novo submetido à execração pela, agora, senil e velha mídia, mas a mesma da época da ditadura e do processo do Bornhausen. De novo a empresa dos Frias envolvida, mediante uma armadilha de usar em on o que era uma conversa em off, coisa típica desse jornalismo decadente e imoral. Saio também ileso, moral e politicamente, honrado com todos os apoios que recebo, assim como pela lista – esta sim, execrável, dos que atacam, do outro lado”.
“A sensação, nas três circunstâncias, é a de que me tornaram vítima ‘por boas razões’, como dizia o Brecht, porque estou do lado certo, no bom combate, que o que está em jogo não sou eu individualmente, mas causas justas que é preciso defender e a que tantos dedicam também suas vidas na defesa delas. Que a solidariedade imensa e emocionante que recebi nas três ocasiões se dirige às causas às quais dedico o melhor da minha energia e não a mim como pessoa.
“Portanto, me sinto bem nessas circunstâncias em que a direita me toma como vítima privilegiada, como que honrado por esse privilégio de ser considerado alguém que os incomoda, que afeta os seus interesses e os seus valores conservadores. De todas elas saí mais forte, com mais apoio, com mais amigos e companheiros, mais convencido de que essas são causas justas – tanto assim, que a direita as combate sempre, com todas suas armas, desde as metralhadoras e os carros da Oban-Folha, até o monopólio, enfraquecido e senil, da imprensa -, que vale a pena jogar a vida por elas”.
“Pegadinha” asquerosa da Folha
O motivo que teria levado Ana de Hollanda a cancelar a nomeação de Emir Sader foi uma entrevista concedida pelo sociólogo à Folha de S. Paulo, publicada no domingo (27), com o objetivo de apresentar seu plano de trabalho para a Casa de Rui Barbosa. Mas num golpe rasteiro, bem comum neste jornal de intrigas e futricas, a Folha preferiu destacar uma crítica à ministra, que seria “meio autista”, proferida já ao final da entrevista – em off, segundo o jargão jornalístico.
Emir Sader tem consciência de que a entrevista foi uma armadilha para inviabilizar sua nomeação para este importante instituto de debate de idéias. A provocação da Folha já aparece no título da matéria: “Um emirado para Emir”. No seu início, a bravata direitista de que “o espectro do comunismo” ronda o Ministério da Cultura. Na sequência, os jornalistas Marcelo Bortoloti e Paulo Werneck, que mais se parecem militantes do DEM, ainda ironizam a nomeação de Emir Sader para a Casa Rui Barbosa, afirmando que os intelectuais teriam que “entoar a Internacional Comunista” e seriam enviados para o “corte de cana” em Cuba.
“A entrevista é editorializada desde o título até o final. Não tem nem a generosidade de te dar a palavra e depois, no final, dizer o que acha. É tudo editorializado”, lamentou Emir Sader numa entrevista à Rede Brasil Atual. Segundo explicou, parte da conversa com os repórteres da Folha foi feita em off, prática jornalística pela qual se publica o conteúdo sem citar a fonte. “O sociólogo entende que a intenção por trás da reportagem vai muito além de sua posse na fundação. ‘O problema não é comigo. É tentar inviabilizar um espaço de pluralismo intelectual, teórico, político. Isso é o que os assusta porque são do pensamento único’”.
Início conturbado no MinC
Com base nesta “pegadinha” é que Ana de Hollanda teria cancelado a nomeação, segundo afirmam os jornalões. Mas esta decisão intempestiva ainda deve ter desdobramentos. Há um forte clima de descontentamento, inclusive em áreas do PT, com o início de gestão, bastante conturbado, da nova ministra. De cara, em janeiro, ela desagradou os ativistas ligados à cultura digital ao retirar a licença Creative Commons do sítio oficial do Ministério da Cultura.
Na sequência, ela indicou um advogado do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) para a Diretoria de Direitos Intelectuais (DDI). Os Pontos de Cultura, uma iniciativa inovadora do ministério no governo Lula, também reclamam da falta de repasses de recursos do programa Cultura Viva. Tampouco foram abertos novos editais para pontos, prêmios e outras formas de financiamento cultural que caracterizaram os oito anos anteriores no Ministério da Cultura (MinC).
Clima de insatisfação e autismo
Segundo Renato Rovai, um dos jornalistas mais bem informados sobre o que rola na área cultural, “a avaliação que circula no Planalto é que o troféu ‘ministério problema’ dos primeiros 100 dias do governo Dilma dificilmente escapará das mãos do MinC. Na bancada de deputados petistas, há uma insatisfação quase generalizada com as ações do ministério; na blogosfera, o MinC se tornou pauta negativa todos os dias; nos movimentos sociais, há uma crise instalada por conta dos sinais que vem sendo emitidos em relação às novas políticas para os Pontos de Cultura; entre os intelectuais que apoiaram Dilma, a decepção com a nova agenda tem levado alguns a dizer que vão desembarcar do apoio ao governo”.
Para ele, a situação é preocupante. “O governo Dilma ainda está começando e há tempo para o MinC mudar o sinal desses primeiros meses, saindo do noticiário a partir de pautas negativas e buscando um novo tipo de relacionamento com os setores que defenderam a candidatura de Dilma e que fazem parte da base histórica do PT e do PCdoB, por exemplo, na área. Mas para isso é preciso descer do salto. Não parece ser essa opção da nova equipe. Os recados que chegam do bloco A da Esplanada é de que certos temas são proibidos. E que na nova equipe se instalou um clima de que todas as críticas são parte de uma tentativa de desestabilizar Ana de Hollanda. Política não se faz procurando inimigos embaixo da mesa de trabalho. Quando isso acontece, o resultado costuma ser desastroso”.
Conheça o Blog do Altamiro Borges >> As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade pessoal do autor e não representam necessariamente a posição do Portal Planeta ou de seus colaboradores diretos.
A decisão abrupta da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, de cancelar a nomeação de Emir Sader para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, gerou uma ofensiva histérica da mídia contra o renomado intelectual de esquerda. Alguns “calunistas”, como Josias de Souza (Folha), Ricardo Noblat (Globo) e Reinaldo Azevedo (Veja), tiveram orgasmos múltiplos. Os jornalões e seus sítios fazem de tudo para desqualificar o sociólogo.
A “vingança maligna”
O ódio da direita contra Emir Sader não é novidade. Ela nunca tolerou suas críticas ao “pensamento único” emburrecedor do neoliberalismo. Ela também nunca aceitou o papel ativo do intelectual, que não se enfurna na academia e procura transforma suas reflexões críticas em ação política transformadora. Mesmo com ressalvas a vários limites do governo Lula, o sociólogo teve papel destacado na mobilização da intelectualidade para evitar o retrocesso demotucano no país. A mídia nunca o perdoou.
Cabeça erguida e muita disposição
Num texto publicado hoje, Emir Sader afirma que não se abala com a brutal perseguição da direita. Ele lembra que esta é a terceira vez é vitima da sua truculência:
“A primeira foi durante a ditadura. Buscado pela Oban (aquela para a qual a empresa dos Frias emprestou seus carros para disfarçar de jornalistas os agentes do terrorismo de Estado), casa invadida, mulher detida, biblioteca destruída, foto nos jornais e nos cartazes da ditadura como buscado por terrorista, execrado pela imprensa. Eu estava na clandestinidade, fui condenado, à revelia, a quatro anos e meio de prisão, depois anistiado”.
“A segunda, no processo movido pelo Jorge Bornhausen, quando eu lhe respondi com artigo na Carta Maior àquela declaração de que ia ‘acabar com essa raça por 20 anos’. Ele me moveu processo por injúria, calúnia e difamação, teve o apoio, uma vez mais, da empresa dos Frias, execrado pela imprensa. Foi desatado um amplíssimo movimento de solidariedade, com abaixo assinado encabeçado pelo Chico Buarque, Veríssimo, Antônio Candido, Eduardo Galeano, que recolheu mais de 20 mil assinaturas”.
“Agora há esta nova ofensiva da direita, de novo achando que podem me constranger, me calar, me isolar. De novo truculenta, de novo submetido à execração pela, agora, senil e velha mídia, mas a mesma da época da ditadura e do processo do Bornhausen. De novo a empresa dos Frias envolvida, mediante uma armadilha de usar em on o que era uma conversa em off, coisa típica desse jornalismo decadente e imoral. Saio também ileso, moral e politicamente, honrado com todos os apoios que recebo, assim como pela lista – esta sim, execrável, dos que atacam, do outro lado”.
“A sensação, nas três circunstâncias, é a de que me tornaram vítima ‘por boas razões’, como dizia o Brecht, porque estou do lado certo, no bom combate, que o que está em jogo não sou eu individualmente, mas causas justas que é preciso defender e a que tantos dedicam também suas vidas na defesa delas. Que a solidariedade imensa e emocionante que recebi nas três ocasiões se dirige às causas às quais dedico o melhor da minha energia e não a mim como pessoa.
“Portanto, me sinto bem nessas circunstâncias em que a direita me toma como vítima privilegiada, como que honrado por esse privilégio de ser considerado alguém que os incomoda, que afeta os seus interesses e os seus valores conservadores. De todas elas saí mais forte, com mais apoio, com mais amigos e companheiros, mais convencido de que essas são causas justas – tanto assim, que a direita as combate sempre, com todas suas armas, desde as metralhadoras e os carros da Oban-Folha, até o monopólio, enfraquecido e senil, da imprensa -, que vale a pena jogar a vida por elas”.
“Pegadinha” asquerosa da Folha
O motivo que teria levado Ana de Hollanda a cancelar a nomeação de Emir Sader foi uma entrevista concedida pelo sociólogo à Folha de S. Paulo, publicada no domingo (27), com o objetivo de apresentar seu plano de trabalho para a Casa de Rui Barbosa. Mas num golpe rasteiro, bem comum neste jornal de intrigas e futricas, a Folha preferiu destacar uma crítica à ministra, que seria “meio autista”, proferida já ao final da entrevista – em off, segundo o jargão jornalístico.
Emir Sader tem consciência de que a entrevista foi uma armadilha para inviabilizar sua nomeação para este importante instituto de debate de idéias. A provocação da Folha já aparece no título da matéria: “Um emirado para Emir”. No seu início, a bravata direitista de que “o espectro do comunismo” ronda o Ministério da Cultura. Na sequência, os jornalistas Marcelo Bortoloti e Paulo Werneck, que mais se parecem militantes do DEM, ainda ironizam a nomeação de Emir Sader para a Casa Rui Barbosa, afirmando que os intelectuais teriam que “entoar a Internacional Comunista” e seriam enviados para o “corte de cana” em Cuba.
“A entrevista é editorializada desde o título até o final. Não tem nem a generosidade de te dar a palavra e depois, no final, dizer o que acha. É tudo editorializado”, lamentou Emir Sader numa entrevista à Rede Brasil Atual. Segundo explicou, parte da conversa com os repórteres da Folha foi feita em off, prática jornalística pela qual se publica o conteúdo sem citar a fonte. “O sociólogo entende que a intenção por trás da reportagem vai muito além de sua posse na fundação. ‘O problema não é comigo. É tentar inviabilizar um espaço de pluralismo intelectual, teórico, político. Isso é o que os assusta porque são do pensamento único’”.
Início conturbado no MinC
Com base nesta “pegadinha” é que Ana de Hollanda teria cancelado a nomeação, segundo afirmam os jornalões. Mas esta decisão intempestiva ainda deve ter desdobramentos. Há um forte clima de descontentamento, inclusive em áreas do PT, com o início de gestão, bastante conturbado, da nova ministra. De cara, em janeiro, ela desagradou os ativistas ligados à cultura digital ao retirar a licença Creative Commons do sítio oficial do Ministério da Cultura.
Na sequência, ela indicou um advogado do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) para a Diretoria de Direitos Intelectuais (DDI). Os Pontos de Cultura, uma iniciativa inovadora do ministério no governo Lula, também reclamam da falta de repasses de recursos do programa Cultura Viva. Tampouco foram abertos novos editais para pontos, prêmios e outras formas de financiamento cultural que caracterizaram os oito anos anteriores no Ministério da Cultura (MinC).
Clima de insatisfação e autismo
Segundo Renato Rovai, um dos jornalistas mais bem informados sobre o que rola na área cultural, “a avaliação que circula no Planalto é que o troféu ‘ministério problema’ dos primeiros 100 dias do governo Dilma dificilmente escapará das mãos do MinC. Na bancada de deputados petistas, há uma insatisfação quase generalizada com as ações do ministério; na blogosfera, o MinC se tornou pauta negativa todos os dias; nos movimentos sociais, há uma crise instalada por conta dos sinais que vem sendo emitidos em relação às novas políticas para os Pontos de Cultura; entre os intelectuais que apoiaram Dilma, a decepção com a nova agenda tem levado alguns a dizer que vão desembarcar do apoio ao governo”.
Para ele, a situação é preocupante. “O governo Dilma ainda está começando e há tempo para o MinC mudar o sinal desses primeiros meses, saindo do noticiário a partir de pautas negativas e buscando um novo tipo de relacionamento com os setores que defenderam a candidatura de Dilma e que fazem parte da base histórica do PT e do PCdoB, por exemplo, na área. Mas para isso é preciso descer do salto. Não parece ser essa opção da nova equipe. Os recados que chegam do bloco A da Esplanada é de que certos temas são proibidos. E que na nova equipe se instalou um clima de que todas as críticas são parte de uma tentativa de desestabilizar Ana de Hollanda. Política não se faz procurando inimigos embaixo da mesa de trabalho. Quando isso acontece, o resultado costuma ser desastroso”.
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