sexta-feira, 18 de maio de 2012


Novas gravações da PF complicam jornalista da Veja



Áudio aponta que Policarpo Júnior sabia dos negócios de Cachoeira com a Delta

Novos áudios da Operação Monte Carlo que vazaram na internet complicam ainda mais a situação do jornalista da revista Veja Policarpo Júnior, gravado pela Polícia Federal em ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e citado pelo grupo do contraventor em dezenas de diálogos.
As gravações são de 10 de maio de 2011. Em diferentes trechos, Cachoeira conversa com o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu, deixando claro que Policarpo sabia da ligação do contraventor com a Delta. Mas, segundo Cachoeira, Policarpo não iria divulgar nada porque a intenção era mostrar outra questão ligada à empresa.
Em um dos trechos, Cachoeira diz que Policarpo não os “colocaria em roubada” e que ele “sabia de tudo” sobre a relação de Cláudio Abreu, a Delta e o bicheiro.
— O Policarpo é o seguinte: ele não alivia nada, mas também não te põe em roubada, entendeu? Eu falei, eu sei, ó: “Inclusive vou te apresentar depois, Policarpo, o Cláudio, eu sou amigo”, eu falei que era amigo do cê de infância. E ele: “Então, ele trabalha na sua empresa”, falou assim, “vai me contar que você tem ligação com ele”. Ele [Policarpo] sabia de tudo. “Eu não vou esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”.
O jornalista não teria interesse em publicar essa informação. A intenção dele era mostrar que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu havia ajudado a Delta a “entrar em Brasília” durante a gestão do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.
Policarpo teria ficado sabendo por uma fonte fora do grupo de Cachoeira que houve uma reunião em Itajubá (MG) e estaria atrás de um flagrante da entrega de “dinheiro vivo”. O bicheiro, entretanto, negou que tenha ocorrido essa reunião e desmentiu a informação.
No final de semana anterior, a revista Veja publicou a reportagem “O segredo do sucesso”, em que vinculava o crescimento da empresa Delta à consultoria de José Dirceu.
Segundo Cachoeira, no diálogo gravado pela PF, Policarpo o consultava porque confiava nele.
— Aquela hora eu tava com Policarpo, rapaz. Antes do almoço ele me chamou para conversar. Mil e uma pergunta, perguntou se a Delta tinha gravação, defendi pra caralho vocês, viu. [...] O Policarpo, ele confia muito em mim, viu? Vô ter que mostrar a mensagem que ele mandou antes, 10 horas da manhã para me encontrar aqui em Brasília, eu tava aqui fui me encontrar com ele.
Mesmo diante da resposta de que Cachoeira teria defendido a empresa, Cláudio Abreu pergunta:
— O cara vai aliviar pra cima da gente?
O bicheiro então confirma que “a história” que Policarpo queria era outra e pede que o ex-diretor da Delta esqueça o assunto.
– Não, não fala que eu te falei tá? Mas a história tá em cima de Itajubá, tá na reunião, que aquilo lá já deu, esquece, ô, Claudio, esquece, falei mil e uma coisa.
Procurada pela reportagem do R7, a revista Veja disse que não vai comentar o assunto.
Depoimento
Na última reunião da CPI, na quinta-feira (17), mesmo com apoio do senador Fernando Collor (PTB-AL) e de parte da bancada do PT, os parlamentares desistiram de pedir à PF as gravações telefônicas das conversas entre Cachoeira e o jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal da revista Veja e um dos redatores-chefes da publicação.
Diante da forte reação da oposição e de parlamentares da base aliada, a comissão preferiu apoiar uma proposta para pedir à PF o repasse, ordenado por nome, de todos os grampos telefônicos feitos nas operações Vegas e Monte Carlo.
Em termos práticos, a decisão não muda em nada a intenção de acesso às conversas do jornalista.
Para justificar o envio das conversas entre o contraventor e o jornalista, Collor disse, no início dos debates, que é preciso analisar os trechos dos diálogos para verificar se fica comprovado “um conluio mancomunado entre Policarpo Júnior e Carlinhos Cachoeira”.
O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), insistiu na aprovação do pedido de Collor com o argumento de que “nenhuma profissão pode cometer crimes”.
— Esse jornalista teve uma relação de 10 anos com esse criminoso.
O delegado da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues, responsável pela Operação Monte Carlo, disse em depoimento à CPI, que o jornalista Policarpo Júnior sabia das ligações entre Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). A informação foi publicada pela revista Carta Capital.
Mesmo assim, Veja mostrava para seus leitores Demóstenes como referência de ética no Senado.

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