quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Depoente diz que teve nome usado e negou ligações com Cachoeira (Post

 A comerciante Roseli Pantoja afirmou na manhã desta quarta-feira (15) aos parlamentares que integram a CPI Mista do Cachoeira, que teve o nome usado e não conhece o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Roseli disse à CPI que passou uma procuração ao ex-marido para ele abrir uma empresa.

Segundo a Polícia Federal, Roseli aparece como sócia da empresa Alberto & Pantoja Construções, que seria ligada ao esquema do contraventor.

“Eu não trouxe advogado. O que eu tenho a dizer é que meu nome fui usado. Eu fiquei sabendo há dois meses por um jornalista. Eu não tenho nada, nenhum envolvimento com esta quadrilha. Só sei que meu nome foi usado”, disse.

Aos integrantes da CPI, Roseli afirmou que seu nome é escrito com “i” e não com “y”, como foi informado pela Polícia Federal e pela comissão. Ela também não confirmou aos parlamentares o número do CPF que a comissão tinha como sendo dela. Os parlamentares leram os números do CPF e confrontaram com os números ditos por ela, e confirmaram que são diferentes.

 "Na medida em que ela vem aqui, não confirma o CPF, fica mais evidente a teia de crimes cometidos por esta quadrilha”, disse o relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG).

Segundo o relator, o CPF da Roseli com "Y" foi cadastrado em 2009, e a partir daí teria ocorrido a abertura das empresas. "Não é que o CPF era inválido. Usaram o nome da senhora Roseli e cadastraram em 9 de março de 2009 um outro CPF com o nome de uma pessoa parecido com o dela e trocando o i por y [em Roseli), com outro nome de mãe e no endereço que ela vivia", disse o relator Odair Cunha.

Roseli contou aos parlamentares que forneceu uma procuração ao ex-marido para que ele abrisse uma empresa no seu nome. Segundo ela, a empresa ainda não está completamente registrada. Ainda de acordo com ela, a procuração foi dada há menos de um ano.

Roseli confirmou que foi casada com Gilmar Carvalho Morais, que é sócio da G&C Construções Ltda, também tida pela Polícia Federal como empresa fantasma do esquema. Segundo ela, eles se separaram há dez meses. Ela negou ter sociedade com ele e também disse desconhecer que ele tenha uma empresa. "Ele é contador, pelo que eu saiba ele não tem empresa nenhuma."

Segundo ela, o casamento durou cerca de 13 anos. Questionada pelo autor do requerimento, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), sobre detalhes da procuração, entregue ao ex-marido, Roseli afirmou que a procuração foi um dos motivos da separação Segundo ela, o ex-marido abriu uma conta bancária no nome dela e houve problemas que geraram a separação do casal.

"Ele abriu uma conta, pegou empréstimo, deu vários cheques sem fundo, não pagou cartão de crédito e quando vi tinha várias pessoas atrás de mim me cobrando."

A empresária negou que conhecesse Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. “Não, sei apenas o que vi na TV. [Nunca o vi]”, disse.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) sugeriu à comerciante ser incluída em um programa de proteção à testemunha, mas ela recusou. Disse não sentir medo por ter dado o depoimento na CPI e não precisar de segurança. "Acho que não, espero que não. Espero viver minha vida normalmente", respondeu.

Sem carro e com aluguel
Roseli disse aos parlamentares que nunca teve carro, e que paga aluguel de uma pequena loja de bijuterias. Ela foi para a CPI de ônibus. Segundo ela, o ex-marido tinha dívidas e temia que pessoas o procurassem por este motivo. "Ele dizia 'se alguém vier atrás de mim eu não estou aqui, eu sumi'", contou, relatando dívidas de agiotas.

Roseli afirmou aos parlamentares que decidiu comparecer à comissão depois que soube que estavam procurando seu endereço. "Eu vim aqui porque, pelo que eu soube pela internet , que procuraram um endereço meu e constava que eu tenho dois CPFs. Só que um com [Roseli] y e outro ou i. Por isso, achei que poderia ser eu", disse.

Ela afirmou que nunca viajou ao exterior. Em resposta ao senador Pedro Taques (PDT-MT), afirmou que tem apenas um cartão de crédito, com limite de R$ 500. O senador parabenizou Roseli por ter ido a CPI sem advogado. "É bom que existem advogados caríssimos, mas a senhora veio aqui sem advogado. Parabéns".

Segundo o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), Roseli teria sacado R$ 5 milhões em 66 transações. O dinheiro teria sido depositado na conta da Alberto & Pantoja pela construtora Delta. Ele negou que tenha realizado os saques. "Eu li, realmente, que eu tinha sacado, mas não fui eu. Eu tenho certeza absoluta que não estava lá e não saquei este dinheiro", disse Roseli.

Segundo ela, sua declaração de imposto de rende era feita pelo seu ex-marido. "Algumas vezes, ele deixava de fazer [declaração do imposto de renda] Ele ficava de fazer e não fazia", disse.

Paulo Teixeira pediu que a assessoria conversasse com ela, deixando os contatos, para que se sofresse alguma ameaça, ela procurasse a CPI.

Silêncio
O ex-presidente do Departamento de Trânsito (Detran) de Goiás Edivaldo Cardoso de Paula, que também tinha depoimento marcado para esta quarta-feira (15) na CPI do Cachoeira, conseguiu um habeas corpus da Justiça para permanecer em silêncio diante das perguntas dos parlamentares.

Edivaldo aparece em gravações da polícia referentes a um repasse de verbas do governo estadual para uma das empresas de Cachoeira e é suspeito de ter sido indicado para o cargo por Cachoeira. A decisão de conceder o habeas corpus foi tomada na terça (14) pelo ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

"Segundo orientação técnica, eu permanecerei em silêncio, segundo direito constitucional segurado a todos os brasileiros, mas quero apresentar meu respeito a todos os integrantes que compõem esta CPI [...] Peço que não seja interpretado como menosprezo ao trabalho legislativo. Peço escusas", disse Cardoso de Paulo.

Questionado pelo vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP) se queria explicar as suspeitas que recaem sobre ele, o ex-diretor do Detran negou. "Agradeço muito a gentileza, lembrando que minha convocação foi como testemunha, mas seguindo orientações técnicas, permanecerei em silêncio", disse.

Diante da negativa, Cardoso de Paula foi dispensado, o que gerou discussão entre alguns parlamentares que queriam que ele ficasse na sala. O senador Pedro Taques (PDT-MT) foi o primeiro a protestar contra o salvo conduto do STF em favor do ex-presidente do Detran-GO.

"Lamento a decisão do Supremo, isso diz que estamos nós parlamentares estamos praticando ameaça a cidadãos. O Supremo também manda que os depoentes possam não ser presos em decorrência do direito de não se autoincriminar. Isso aqui é uma vergonha", reclamou.

Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou pedido de parlamentares da CPI Mista para que não ocorra mais a dispensa de depoentes que optarem por ficar em silêncio. A decisão é da ministra Rosa Weber.

"Se a regra é esta, vamos parar de convocar?", questionou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG) afirmou que "entende" que o depoente pode ficar calado, mas afirmou que as relações de Cardoso de Paula com Cachoeira "são muito fortes". "Vossa excelência pode contribuir com o trabalho. Claro que o silêncio de vossa senhoria pode ser interpretado por nós como confirmações das investigações".

A liberação dos depoentes é um procedimento tomado pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) toda a vez que um dos depoentes ou testemunhas se reserva ao direito de permanecer calado, sem responder às perguntas.

No caso dos réus do processo envolvendo o esquema do contraventor, o direito de ficar calado para não produzir provas contra si é previsto na Constituição. Já as testemunhas podem ficar caladas caso consigam um habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal.

Outro depoimento previsto para esta quarta também resultou em silêncio. É o caso de Hillner Braga Ananias, ex-segurança do ex-senador Demóstenes Torres, que teve o mandato cassado em julho sob acusação de favorecer Cachoeira. Ananias também obteve uma decisão judicial que lhe garante o direito de ficar calado.

"Conforme orientação do meu advogado, permanecerei em silêncio", disse.

Hillner Ananias teve o nome citado em ligações captadas pela Polícia Federal durante as investigações da operação Monte Carlo, que resultou na prisão de Cachoeira, em fevereiro. O requerimento para ouvi-lo, de autoria do senador Pedro Taques (PDT-MT), diz que há trechos "suspeitos" na conversa e que Demóstenes confirmou que ele foi seu segurança de 2005 a 2011. Nesta terça, ele obteve habeas corpus no Supremo Tribunal Federal garantindo direito de permanecer calado. Questionado pelo relator Odair Cunha se era uma espécie de “ajudante” do ex-senador Demóstenes Torres, ele não quis falar.

"Eu agradeço a oportunidade, mas mantive contato com meu advogado e ele achou por bem, me orientou, ficar em silêncio".

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