terça-feira, 28 de agosto de 2012

Demóstenes recebeu caixa dois de empresa ligada a Cachoeira, diz CPI (Postado por Lucas Pinheiro)

 Documentos obtidos pela CPI Mista que investiga as relações de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários indicam que o ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) recebeu R$ 30 mil de uma empresa ligada ao esquema do contraventor, durante campanha eleitoral de 2010.

O depósito não aparece na prestação de contas do então senador ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A operação, segundo documentos da CPI, ocorreu em setembro de 2010, quando Demóstenes concorria à reeleição no Senado. Em julho deste ano, ele teve o mandato parlamentar cassado por quebra de decoro, em razão dos vínculos com Cachoeira.

Nesta terça, o G1 procurou por telefone o ex-senador, mas, até a última atualização desta reportagem, não tinha conseguido localizá-lo. Informação do Ministério Público de Goiás, onde Demóstenes Torres voltou a atuar como procurador de Justiça após ter deixado o Senado, é que ele está em licença médica.

A Alberto & Pantoja, que, segundo a Polícia Federal, é uma empresa fantasma vinculada ao grupo de Cachoeira, teria efetuado o depósito para a empresa Comercial de Bebidas Rolim.

 Em documento encaminhado à comissão mista no dia 24 de julho de 2012, Arlei Sousa Lacerda, responsável pela Comercial de Bebidas Rolim, afirmou que não sabia a origem do dinheiro recebido pela empresa.

Segundo ele, o recurso foi usado para pagar despesas de campanha do então senador Demóstenes Torres.

O depósito foi constatado por meio da quebra do sigilo bancário e fiscal da Alberto & Pantoja que foi encaminhado à CPI. A empresa é suspeita de receber recursos da Construtora Delta para suposta lavagem de dinheiro.

“Em atenção ao ofício de número 474/2012-CPI-Vegas cumpre-nos informar a esta comissão que o depósito de R$ 30 mil efetuado em conta da nossa empresa em 30 de setembro de 2010 e que só agora somos informados de sua origem, destinou-se a cobrir despesas de campanha em favor do então senador Demóstenes Torres, da qual participamos em nossa Cidade de Planaltina-GO”, disse o responsável pela empresa, em documento encaminhado à CPI.

 Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o repasse de recursos de R$ 30 mil não consta na prestação de contas feita pelo ex-senador. O comitê de campanha também não prestou contas do recurso recebido pela empresa de bebidas.

Afastamento
O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) designou o conselheiro Fabiano Augusto Martins Silveira como relator do pedido para que o ex-senador de Goiás Demóstenes Torres seja afastado do cargo de procurador de Justiça. Segundo a assessoria, ele teve acesso ao processo na noite de segunda (27). Há possibilidade do relator dar decisão ainda nesta terça sobre o pedido de afastamento.

No dia 20 de julho, Demóstenes reassumiu o cargo no Ministério Público de Goiás, após 13 anos longe da instituição e dois dias depois de ter o mandato de senador cassado em Brasília, no dia 11 de julho.

O pedido protocolado é uma representação para avocação de reclamação disciplinar, instauração de processo administrativo disciplinar e pedido de suspensão/afastamento cautelar de Demóstenes, enquanto durarem as investigações contra ele.

O advogado de Demóstenes Torres, Antônio Carlos de Almeida Castro, informou ao G1 na tarde de segunda que o ex-senador ficou sabendo do pedido de afastamento pela imprensa e que, assim que for intimado, apresentará sua defesa.

 Cassado
Demóstenes Torres teve o mandato parlamentar cassado no último dia 11 de julho. Ele foi acusado de quebra de decoro parlamentar, suspeito de ter utilizado o mandato parlamentar para beneficiar os negócios do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Em votação secreta, 56 dos 80 senadores presentes votaram pela cassação, 19 foram contra e houve cinco abstenções. Com o resultado, Demóstenes se tornou o segundo senador cassado no Brasil; o outro foi Luiz Estevão, em 2000.

Com a cassação aprovada, Demóstenes Torres teve seus direitos políticos suspensos por oito anos a contar do fim do mandato parlamentar, que se encerraria em 2019. Dessa forma, Demóstenes só poderá voltar a disputar eleições a partir de 2027, quando tiver 66 anos.

Desde o início das denúncias, ele alegou que sua relação com Cachoeira, revelada em gravações da Polícia Federal, se limitava à amizade e que não sabia de qualquer atividade ilegal.

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